Cultura Tupi-Guarani (Língua, tradições, crenças, seu modo de vida)





Os Guarani são conhecidos por distintos nomes: Chiripá, Kainguá, Monteses, Baticola, Apyteré, Tembekuá, entre outros. No entanto, sua autodenominação é Avá, que significa, em Guarani, “pessoa”.
Os Guarani se denominam a si próprios com palavras que em sua língua significam que eles são verdadeiras e autênticas pessoas e têm consciência de serem gente e povo. Quando da chegada dos espanhóis e portugueses a esta parte da América, por volta de 1500, os Guarani já formavam um conjunto de povos com a mesma origem, falavam um mesmo idioma, haviam desenvolvido um modo de ser que mantinha viva a memória de antigas tradições e se projetavam para o futuro, praticando uma agricultura muito produtiva, que incluía milho, mandioca, batatas, feijão andu, amendoim, cará, abóboras e repolhos, bananas e ananás- abacaxi, de diferentes espécies, assim como outros cultivos. A agricultura dos Guarani gerava amplos excedentes que motivavam grandes festas e a distribuição dos produtos, conforme determinava a economia de reciprocidade, mediante a qual se comunicam seus bens, dando e recebendo dons gratuitos. A economia da reciprocidade que adotaram se relaciona com os aspectos fundamentais de sua política e cultura. Os Guarani guardam tradições de tempos muito antigos.





Delas conservam a memória que vão atualizando em seu cotidiano, através de seus mitos e rituais. A vida dos Guarani em todos os seus momentos importantes - concepção, nascimento, nominação, iniciação, paternidade e maternidade velhice e morte - se baseia na 'palavra-alma' que cada pessoa recebe. O nome, ao nascer, é uma "palavra / alma" que estrutura o ser humano, a pessoa individual, inserindo-a no conjunto social de seres humanos e meio ambiente, ou seja, no mundo guarani. Os Pais das Palavras-Almas, desde seus respectivos céus, se comunicam, ordinariamente, através do sonho com aquele que será seu pai. E é a palavra sonhada que, comunicada à mulher, toma assento nela e começa a concepção do novo ser humano. A cultura guarani reconhece a necessidade das relações sexuais para a existência da gravidez, mas elas não são suficientes para assegurar a concepção. A criatura é enviada por Aqueles de Cima. "O pai a recebe em sonho, conta o sonho à mãe e esta fica grávida" (Egon Schaden, Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani, 1974, p. 108). É o líder religioso que deve encontrar, mediante a inspiração e as longas orações, o nome da pessoa, segundo o lugar espiritual de onde vem. O nome é parte integrante da pessoa. Os Guarani não "se chamam" de tal ou qual maneira, eles "são" tal ou qual. Os Guarani acham ridículo que o sacerdote católico, por exemplo, tenha que perguntar aos pais o nome da criança, pois ele mesmo é quem deveria saber e dar a conhecer esse 'nome'. O nome é parte integrante da pessoa. A doutrina da concepção do ser humano difere entre os grupos guarani, mas está sempre referida à descida da alma de origem divina que toma assento entre os seres humanos, renovando a relação entre deuses e homens. A educação dos Guarani é uma educação da palavra e pela palavra, porém, não para aprender ou memorizar palavras já ditas, mas para escutar as palavras que receberá 'dos de Acima', geralmente através de sonhos. Os Guarani buscam a perfeição de seu ser na perfeição de seu 'dizer', de seu 'falar'. Nas aldeias não pode faltar a "casa de reza", que adquire formas diferentes em cada um dos povos.





 Nessas casas e nos pátios abertos em sua frente é onde se desenvolvem a festa do milho novo, onde se canta e dança durante longas horas. Contatados pelos europeus, desde 1505, os Guarani manifestam uma grande unidade lingüística e cultural. Com muita propriedade lhes foi dado o nome de Guarani, como haviam sido conhecidos os do inicio do contato, no Rio da Prata, e como eles mesmos se distinguiam. Viviam em aldeias de duas, três ou quatro casas grandes, onde habitavam mais de 100 pessoas. Podemos encontrar algumas dessas casas entre os Kaiowá e Pãi Tavyterã no Paraguai. Sua cerâmica era de notável beleza estética e sua arte plumária muito delicada e atrativa. Tudo isto desapareceu quase por completo. O que segue muito presente é seu sistema de intercâmbio de produtos e coisas, que se rege pelo dom.

 Assegurada a subsistência familiar, tem-se ainda algo ou muito para dar. Este é o sentido da festa, do arete , o "dia verdadeiro". No verão, quando é abundante a colheita do milho, da mandioca e outros produtos, como a batata, o feijão e abóboras, são freqüentes as festas. A festa guarani não é somente para o consumo de excedentes, é o motivo para renovar relações de amizade e de trabalho em comum. Sem festas a produção baixa, sensivelmente. A palavra jopói, comum a todos os povos guarani, significa abrir as mãos mutuamente. Esta é a lei fundamental da economia guarani, a lei da casa e das casas entre si.

 A mitologia dos povos que falavam o tupi-guarani não tinha uma hierarquia bem definida até o contato com os europeus. No processo de catequização empreendido pelos jesuítas, a ideia era primeiro conhecer seus mitos para depois modificá-los e criar paralelos com o cristianismo, o que facilitaria a conversão. Foi o que aconteceu com Tupã, que foi elevado pelos missionários à categoria de divindade principal por se assemelhar a valores cristãos. Outro exemplo é Jurupari, que era mais popular que Tupã antes dos jesuítas, mas que passou a ser visto como o chefe dos demônios e maus espíritos. 



O primeirão:
Nhanvecuruçu é a divindade mais antiga, existe desde antes da criação do Universo. Manifesta-se sob a forma de uma energia. Muitas vezes, ele e Tupã são representados como sendo a mesma entidade, pois possuem os mesmos arquétipos.
O maioral:
Tupã, criador do Universo e deus do clima, se manifesta por meio do trovão. Ele criou a matéria a partir de duas almas, uma negativa e outra positiva. Então, desceu na região do monte Aregúa, no atual Paraguai, e criou tudo o que existe hoje.
A criadora:

Jaci é a deusa da noite e da Lua. Algumas lendas a apontam como esposa de Tupã e também dizem que ela o ajudou na criação do Universo e dos homens. Jaci foi responsável por trazer a beleza para a Terra recém-criada.

A rainha das águas:

Iara é a protetora de todas as formas de vida aquáticas. Quando Tupã fez os rios, lagos e mares, criou Iara para protegê-los. Em grande parte das narrativas, ela aparece como uma sereia de cabelos verdes que vive no rio Amazonas. Em outras, como um espírito protetor presente em cada rio

O defensor:

Caaporã é o protetor de todas as formas de vida da Terra. Muitas vezes representado como Caipora ou Curupira, vive em todas as florestas protegendo os animais dos caçadores, a quem engana com barulhos e pistas erradas.

Primeira geração:
Tupave (pai dos povos) e Sypave (mãe dos povos) foram os primeiros seres humanos. Tupã fez o homem a partir de uma estátua de barro e a mulher de uma combinação de vários elementos da natureza. Com o sopro de vida, Tupã os deixou com o bem e o mal dentro de cada um. Tupave e Sypave tiveram três filhos e várias filhas.
Segunda geração:
Os filhos mais famosos de Tupave e Sypave são Tumé Arandatu, Jepeusá, Mangaratu e Porâzy. Tumé Arandatu era conhecido pela sabedoria. Jepeusá foi um ladrão que se matou e virou um caranguejo Mangaratu era um líder generoso cuja filha, Kerana, foi sequestrada por um mau espírito e teve sete filhos amaldiçoados Porâsy, então, se sacrificou para derrotar os sete monstros e salvar a sobrinha. 


O peixe, carne, milho cozido, mandioca,o cauim(um tipo de bebida) faz parte da alimentação dos índios guaranis .Tudo o que é caçado ou pescado é repartido entre todos. Por os antigos guaranis viverem perto dos rios e do mar, acabaram introduzindo a canoa de tronco e a jangada para a casada nos rios. A erva-mate é o elemento básico da alimentação dos guaranis, cuja tribo se espalhava pelo vasto território banhado sobretudo pelos Rios Paraná, Uruguai e Paraguai.

Com o objetivo de tornar comestível a raiz da mandioca amarga, os Guarani sujeitavam-na a um complexo tratamento destinado a eliminar o ácido cianídrico. A polpa é espremida no tipiti (prensa destinada a extrair a água que continha a substância venenosa), amassada e, depois, assada ou torrada em grandes recipientes circulares de barro. A mandioca doce (aipim) era normalmente comida depois de descascada e assada diretamente nas brasas. Os Guaranis preferiam o milho, ingerindo-o cozido ou assado, procedendo também à secagem do grão maduro e inteiro.

Eles comem normalmente peixe fresco, depois de fervido em água. No entanto, podiam também consumi-lo moqueado, ou seja, cozinhando numa grelha feita em varas de madeira verde (moquém). A carne é geralmente grelhada, exceto a de anta, que é cozida. Misturam sal com pimenta e tomam uma pitada dessa massa (juquiraí) sempre que ingeriam uma porção de alimento.

Produzem uma bebida – o cauim – a partir do aipim, do milho, da batata-doce, de seiva de palmeiras e de frutas (ananás e caju). Esta tarefa é destinada às moças que, após o cozimento da matéria-prima, mastigavam-na, desencadeando, através da saliva, o processo de fermentação. O cauim tem um aspecto turvo e espesso como borra e era consumido morno.

Da dieta alimentar tupi-guarani fazem parte também frutos silvestres como maracujá, jabuticaba, araçá, cajá e mangaba, além de mel, ovos de pássaros, larvas, gafanhotos, abelhas e formigas. 

Até o final do século XVII, a língua "oficial" do Brasil era o Tupi-guarani misturado com português. Tupi originou-se da língua Tupinambá, que foi incorporada pelos colonizadores e missionários, sendo adotada como Língua Geral do Brasil. O guarani é falado ainda nos dias de hoje pelos povos guarani, guarani-kaiowá, guarani-ñhandeva e guarani-m'byá. Hoje, os índios brasileiros ainda compartilham 150 línguas e dialetos e parte do repertório que já foi incorporado pelo português.



Os Guarani têm como base de sua organização social, econômica e política, a família extensa, isto é, grupos macro familiares que detêm formas de organização da ocupação espacial dentro dos tekoha determinada por relações de afinidade e consangüinidade. É composta pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e constitui uma unidade de produção e consumo. A cada família extensa corresponderá, como condição para sua existência, uma liderança, em geral um homem que denominam Tamõi (avô), não sendo raro, contudo, a existência de líder de família extensa mulher, que denominam Jari (avó) – neste caso, a incidência é maior entre os Ñandeva. O líder familiar aglutina parentes e os orienta política e religiosamente. Cabe-lhe também as decisões sobre o espaço que seu grupo ocupa no tekoha e onde as famílias nucleares (pais e filhos) pertencentes a seu grupo familiar distribuem suas habitações, plantam suas roças e utilizam os recursos naturais disponíveis. As famílias nucleares hoje em dia vivem em habitações isoladas e dispersas pela área disponível no tekoha, referidas, porém, à casa e presença do tamõi ou jari. Sua casa é um local centralizador e ao redor da qual movimenta-se toda a família, onde as pessoas se reúnem e onde haverá um altar (mba’e marangatu) para os jeroky, que são rituais sagrados praticados no cotidiano.

Os homens casam-se entre 16 e 18 anos, enquanto as mulheres podem casar-se a partir da segunda ou terceira menstruação, em geral entre 14 e 17 anos. Na primeira menstruação as meninas têm seu cabelo cortado e mantêm resguardo dentro de suas casas, onde recebem alimentos e de onde raramente saem por algumas semanas. Não há ritual específico nos casamentos, cabendo aos pais do rapaz, na pauta tradicional guarani, a iniciativa de falar com os pais da moça sobre o matrimônio. Espera-se, contudo, que os noivos estejam aptos a construir e manter casa e filhos.

Há nítida divisão sexual dos trabalhos e das funções econômicas na dinâmica cotidiana dos Guarani, sendo efetivamente muito raro encontrar homem ou mulher incapaci­tados de desempenhar funções produtivas nesse dia-a-dia.

Há uma tendência na tradição desses indígenas de que os novos casais venham a constituir moradia uxorilocalmente, isto é, que seguem um padrão de residência no qual após o casamento os cônjuges passam a viver na localidade do pai da mulher, incluíndo-se o esposo como apoio político e econômico de seu sogro, absorvido pelo grupo macro familiar. Atualmente contribui para a escolha do lugar de um novo casal o peso político e econômico das famílias envolvidas.

Os cônjuges devem pertencer a diferentes famílias extensas, uma vez que há regras explícitas de proibição de casamento dentro do que consideram ser a mesma família, o que caracteriza regras exogâmicas, mas não há regras prescritivas sobre com quem deve se dar o casamento. Uma união ilícita – incesto – tem implicações no campo mítico, pois causa Mbora'u (mau agouro). No mesmo sentido, os Kaiowa referem-se à poligamia, insistindo na sua proibição, diferentemente dos Ñandeva, onde se verifica maior incidência de homens casados com mais de uma mulher.

O parentesco guarani é um sistema de linhagens de descendência cognática, isto é, há um ascendente comum, o tamõi (avô) ou a jari (avó), que é a referência das relações familiares e dos quais consideram-se descendentes. A importância das redes de parentesco é realçada em qualquer situação guarani. Mesmo separações físicas não provocam a perda de vínculos dos que estão longe, sempre lembrados nas conversas do cotidiano, afora padrões de visitação (oguata ou caminhar) e comunicação que mantêm os parentes constantemente informados entre si. 

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Os Guarani são extremamente hábeis na condução política de seus interesses. Cada tekoha é liderado por um chefe, “capitão” ou “cacique”, categorias não indígenas para designar aquele que irá dirigir a ordem política da comunidade nas relações com o mundo ocidental, principalmente o Estado brasileiro – no discurso tradicional o termo usado é tamõi, já comentado, ou, para designar o chefe político, mboruvixa. Sua função, com efeito, é compreendida pelos grupos familiares que lidera como de representação política nesse âmbito, sendo relativo seu poder frente à autonomia das famílias extensas. Não há um poder centralizado e totalizador.

Dada a grande autonomia dos grupos macro familiares, apenas em momentos específicos, quando o grupo enfrenta problemas que atingem a todos, que o tekoha guarani revela-se uma totalidade e exige-se a atuação do "capitão". Dependendo, no entanto, da situação local ou regional, ou mesmo do subgrupo, a organização política da comunidade (tekoha) poderá variar.

Nestes termos, variadas composições políticas, próprias a cada localidade, se estabelecem, na medida em que os agentes se inter-relacionam com forças políticas locais, como grupos familiares, líderes, pessoas de prestígio etc.




Webgrafia:


* http://www.guarani.roguata.com/pt-br/photo?keys=&field_photo_region_value=All&page=1
* https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/caderno_guarani_%20portugues.pdf
* https://mundoestranho.abril.com.br/cultura/como-e-a-mitologia-tupi-guarani/
* http://geografiacultural.blogspot.com.br/2008/11/alimentao.html
* http://estudosmagicos.blogspot.com.br/2011/05/influencia-do-idioma-tupi-guarani.html
* https://www.todamateria.com.br/cultura-tupi-guarani/
* http://histoblogsu.blogspot.com.br/2009/04/os-tupi-guarani.html
* https://pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-nandeva/1301



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